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Vidas Seccas
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do rio, a lama secca e rachada que escaldava os pés.

Pelo espirito atribulado do sertanejo passou a idéa de abandonar o filho naquelle descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinha Victoria estirou o beiço indicando vagamente uma direcção e affirmou com alguns sons gutturaes que estavam perto. Fabiano metteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estomago, frio como um defuncto. Ahi a colera desappareceu e Fabiano teve pena. Impossivel abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinha Victoria, poz o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe cahiam sobre o peito, molles, finos como cambitos. Sinha Victoria approvou esse arranjo, lançou de novo a interjeição guttural, designou os joazeiros invisiveis.

E a viagem proseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silencio grande.

Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costel-