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Vidas Seccas
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Recordou-se do que lhe succedera annos atraz, antes da secca, longe. Num dia de apuro recorrera ao porco magro que não queria engordar no chiqueiro e estava reservado ás despesas do Natal: matara-o antes de tempo e fôra vendel-o na cidade. Mas o sujeito da prefeitura chegara com o talão de recibos e atrapalhara-o. Fabiano fingira-se desentendido: não comprehendia nada, era um bruto. Como o outro lhe explicasse que, para vender o porco, devia pagar imposto, tentara convencel-o de que ali não havia porco, havia quartos de porco, pedaços de carne. O agente se aborrecera, insultara-o, e Fabiano se encolhera. Bem, bem. Deus o livrasse de historia com o governo. Julgava que podia dispor dos seus troços. Não entendia de imposto.

— Um bruto, está percebendo?

Suppunha que o cevado era delle. Agora se a prefeitura tinha uma parte, estava acabado. Pois ia voltar para casa e comer a carne. Podia comer a carne? Podia ou não podia? O funccionario batera o pé agastado e Fabiano se desculpara, o chapeo de couro na mão, o espinhaço curvo: