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Vidas Seccas
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dicula. Resolvera de supetão aproveital-o como alimento e justificara-se declarando a si mesma que elle era mudo e inutil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a familia falava pouco. E depois daquelle desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.

As manchas dos joazeiros tornaram a apparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canceira e os ferimentos. As alpercatas delle estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.

Num cotovello do caminho avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz sahiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.

Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos joazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.

Sinha Victoria accommodou os filhos, que arrearam como trouxas, cobriu-os com molambos.