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Vidas Seccas
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tinham vivido, muito longe? Fabiano agitava a cabeça, vacillando. Talvez fosse, talvez não fosse. Cochicharam uma conversa longa e entrecortada, cheia de malentendidos e repetições. Viver como tinham vivido, numa casinha protegida pela bolandeira de seu Thomaz. Discutiram e acabaram reconhecendo que aquillo não valeria a pena, porque estariam sempre assustados, pensando na secca. Approximavam-se agora dos lugares habitados, haveriam de achar morada. Não andariam sempre á toa, como ciganos. O vaqueiro ensombrava-se com a idéa de que se dirigia a terras onde talvez não houvesse gado para tratar. Sinha Victoria tentou socegal-o dizendo que elle poderia entregar-se a outras occupações, e Fabiano estremeceu, voltou-se, estirou os olhos em direcção á fazenda abandonada. Recordou-se dos animaes feridos e logo afastou a lembrança. Que fazia ali virado para traz? Os animaes estavam mortos. Encarquilhou as palpebras contendo as lagrimas, uma saudade grande espremeu-lhe o coração, mas um instante depois vieram-lhe ao espirito figuras insupportaveis: o patrão, o soldado amarello,