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Vidas Seccas
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der. Ergueu-se, assustado, como se os bichos tivessem descido do ceo azul e andassem ali perto, num vôo baixo, fazendo curvas cada vez menores em torno do seu corpo, de sinha Victoria e dos meninos.

Sinha Victoria percebeu-lhe a inquietação na cara torturada e levantou-se tambem, accordou os filhos, arrumou os picuás. Fabiano retomou o carrego. Sinha Victoria desatou-lhe a correia presa ao citurão, tirou a cuia e emborcou-a na cabeça do menino mais velho, sobre uma rodilha de molambos. Em cima poz uma trouxa. Fabiano approvou o arranjo, sorriu, esqueceu os urubus e o cavallo. Sim senhor. Que mulher! Assim elle ficaria com a carga alliviada e o pequeno teria um guarda-sol. O peso da cuia era uma insignificancia, mas Fabiano achou-se leve, pisou rijo e encaminhou-se ao bebedouro. Chegariam lá antes da noite, beberiam, descançariam, continuariam a viagem com o luar. Tudo isso era duvidoso, mas adquiria consistencia. E a conversa recomeçou, emquanto o sol descambava.

— Tenho comido toucinho com mais cabello, declarou Fabiano desafiando o ceo, os espinhos e os urubus.