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Página:Vidas seccas.pdf/60

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Graciliano Ramos

dentemente, receosa de sapecar o pêlo, e ficou observando maravilhada as estrellinhas vermelhas que se apagavam antes de tocar o chão. Approvou com um movimento de cauda aquelle phenomeno e desejou expressar a sua admiração á dona. Chegou-se a ella em saltos curtos, offegando, ergueu-se nas pernas trazeiras, imitando gente. Mas sinha Victoria não queria saber de elogios.

— Arreda!

Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada e com sentimentos revolucionarios.

Sinha Victoria tinha amanhecido nos seus azeites. Fóra de proposito, dissera ao marido umas inconveniencias a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difficil de entender, deitara-se na rede e pegara no somno. Sinha Victoria andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.