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Vidas Seccas
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Avizinhou-se da janella baixa da cozinha, viu os meninos entretidos no barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que seccavam ao sol, sob o pé de turco, e não encontrou motivo para reprehendel-os. Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquillo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradavel dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas.

Fazia mais dum anno que falava nisso ao marido. Fabiano a principio concordara com ella, mastigara calculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o movel necessario economizando na roupa e no kerozene. Sinha Victoria respondera que isso era impossivel, porque elles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se accendiam candieiros na casa. Tinham discutido, procurado cortar outras despesas. Como não se entendessem, sinha Victoria alludira, bastante azeda, ao dinheiro gasto pelo marido na feira, com jogo e cachaça. Resentido, Fabiano condemnara os sapatos de verniz que ella usava nas festas, caros e inuteis. Calçada naquillo,