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Página:Vidas seccas.pdf/64

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Graciliano Ramos

tentativas, inutilmente. O resultado foi seccar a garganta. Ergueu-se desapontada. Besteira, aquillo não valia.

Approximou-se do canto onde o pote se erguia numa forquilha de tres pontas, bebeu um caneco d’agua. Agua salobra.

— Iche!

Isto lhe suggeriu duas imagens quasi simultaneas, que se confundiram e neutralizaram: panellas e bebedouros. Encostou o furabolos á testa, indecisa. Em que estava pensando? Olhou o chão, concentrada, procurando recordar-se, viu os pés chatos, largos, os grandes artelhos muito separados dos outros. De repente as duas idéas voltaram: o bebedouro seccava, a panella não tinha sido temperada.

Foi levantar o testo, recebeu na cara vermelha uma baforada de vapor. Não é que ia deixando a comida esturrar? Poz agua nella e remexeu-a com a quenga preta de coco. Em seguida provou o caldo. Ensosso, nem parecia boia de christão. Chegou-se ao girau onde se guardavam combucos e mantas de carne, abriu a mochila de sal, tirou um punhado, jogou-o na panella.