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Página:Vidas seccas.pdf/78

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Graciliano Ramos

Agora as cabras se empurravam mettendo os focinhos na agua, os cornos entrechocavam-se, Baleia, atarefada, latia correndo.

Trepado na ribanceira, com o coração aos baques, o menino mais novo esperava que o bode chegasse ao bebedouro. Certamente aquillo era arriscado, mas parecia-lhe que ali em cima tinha crescido e podia virar Fabiano.

Sentou-se indeciso. O bode ia saltar e derrubal-o.

Ergueu-se, afastou-se, quasi livre da tentação, viu um bando de periquitos que voavam sobre as catingueiras. Desejou possuir um delles. amarral-o com uma embira, dar-lhe comida. Sumiram-se todos chiando, e o pequeno ficou triste, espiando o ceo cheio de nuvens brancas. Algumas eram carneirinhos, mas desmanchavam-se e tornavam-se bichos differentes. Duas grandes se juntaram — e uma tinha a figura da egua alazã, a outra representava Fabiano.

Baixou os olhos encandeados, esfregou-os, approximou-se novamente da ribanceira, distinguiu a massa confusa do rebanho, ouviu as pancadas dos chifres. Se o bode já tivesse bebido, elle experimentaria decepção. Examinou as