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Vidas Seccas
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pernas finas, a camisinha encardida e rasgada. Enxergara viventes no ceo, considerava-se protegido, convencia-se de que forças mysteriosas iam amparal-o. Boiaria no ar, como um periquito.

Poz-se a berrar, imitando as cabras, chamando o irmão e a cachorra. Não obtendo resultado, indignou-se. Ia mostrar aos dois uma proeza, voltariam para casa espantados.

Ahi o bode se avizinhou e metteu o focinho na agua. O menino despenhou-se da ribanceira, escanchou-se no espinhaço delle.

Mergulhou no pelame fofo, escorregou, tentou em vão segurar-se com os calcanhares, foi atirado para a frente, voltou, achou-se montado na garupa do animal, que saltava demais e provavelmente se distanciava do bebedouro. Inclinou-se para um lado, mas, fortemente sacudido, retomou a posição vertical, entrou a dançar desengonçado, as pernas abertas, os braços inuteis. Outra vez impellido para a frente, deu um salto mortal, passou por cima da cabeça do bode, augmentou o rasgão da camisa numa das pontas e estirou-se na areia. Ficou ali estatelado, quie-