Saltar para o conteúdo

Página:Vidas seccas.pdf/80

Wikisource, a biblioteca livre
76
Graciliano Ramos

tinho, um zumzum nos ouvidos, percebendo vagamente que escapara sem honra da aventura.

Viu as nuvens que se desmanchavam no ceo azul, embirrou com ellas. Interessou-se pelo vôo dos urubus. Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.

Sentou-se, apalpou as juntas doídas. Fôra saccolejado violentamente, parecia-lhe que os ossos estavam deslocados.

Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam tel-o prevenido. Não descobriu nelles nenhum signal de solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, seria, desapprovava tudo aquillo. Achou-se abandonado e mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.

Ergueu-se, arrastou-se com desanimo até a cerca do bebedouro, encostou-se a ella, o rosto virado para a agua barrenta, o coração esmorecido. Metteu os dedos finos pelo rasgão, coçou o peito magro. O tropel das cabras perdeu-se na ladeira, a cachorrinha ladrou longe. Como estariam as nuvens? Provavelmente algumas se transformavam em carneirinhos, outras eram como bichos desconhecidos.