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SENHORAS
2 Ninguem aqui tem razão
Para odio vos votar;
Mas ha quem saiba em segredo
Puro amor vos tributar.
3 Aqui está quem vos ama;
Tem a mão posta no rosto:
O homem morre de amores,
O tolo não tem máo gosto.
4 Ha aqui quem vos deixe
Pelo bem que já vos quiz;
Tem razão, que o desprezado
Tem-se em conta de infeliz.
5 Não ha; aqui igualmente
Sois por todos estimada;
Mas está daqui distante
Esse por quem sois amada.
6 Tem bigode; é moço claro,
E no vosso amor tem fé;
Cavalleiro tão constante
Vós assaz sabeis quem é!
7 Ama-vos um certo moço
Que por vós, suspira assaz;
E' um velho, que por velho
Só suspira por detrás!
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HOMENS
2 Se eu soubera, vos dissera,
Mas não sei, dizer não posso;
Se ha odio aqui — todo é della,
Se ha amor — todo é vosso.
3 Sois amado e aborrecido!
Amado por uma velha,
Aborrecido por uma moça
Que co'um anjo se assemelha.
4 Aborrecido! E essa é boa,
Já estais admirado?
Quem desdenha quer comprar,
Sois em tudo afortunado!
5 Amado! Porém é pena,
Que tanto não mereceis,
Que afóra velhas amantes,
Só novatas contais seis!
6 Adeus minhas encommendas!
E poderei tal dizer?
Quem vos ama é um peixão
Que vos finge aborrecer.
7 Todos vos amam, senhor,
E todas vos aborrecem;
Os homens pouco se importam,
As moças bem vos conhecem.
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SENHORAS
8 Ama-vos o novo amante,
E o velho vos aborrece:
Quem faz o que vós fizestes
Isso mesmo é que merece.
9 Sois amada de um sujeito
Mas tendes uma rival;
E' essa que junto a vós
Se mostra tão jovial.
10 Sois trahida do cadete
Que ha pouco vos escreveu;
Más consolai-vos, que o moço
Por certo o siso perdeu.
11 Todos que aqui se acham
Por certo estima vos tem,
E se sois aborrecida
Sois só por um certo alguem!
12 Quem vos póde aborrecer
Por certo aqui não está;
Fostes perjura, senhora,
E elle se vingará!
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HOMENS
8 A mãi, que é velha, aborrece
Vosso genio jovial;
Porém a filha vos vota
Amor que não tem igual!
9 Aqui ninguem ha que possa
Vos amar a não ser ella...
Para páo de cabelleira...
Porém isso é bagatella!
10 As moças vos amam muito
Pela fama verdadeira
De que servis aos amantes
Para páo de cabelleira.
11 Sois amado e aborrecido,
Que é isso ordem do mundo;
Mas uma certa menina
Lá vos tem amor profundo.
12 Amado não sois, senhor;
Aborrecido, isso sim,
Que todo o mundo detesta
Vossas massadas sem fim!
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