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Pacotilha poetica/Se amor lhe dará gosto ou desgosto

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SENHORAS

2 Amor sempre é tentação
   Em que se mette o diabo,
   Que põe no gosto o desgosto,
   Põe na honra o menoscabo.

3 Durante a lua de mel
   Gozareis summas doçuras!
   Depois nem tudo são rosas,
   Nem tudo são só venturas.

4 O amor é puro gosto,
   Duro desgosto tambem;
   Soffrereis e gozareis
   Ora mal e ora bem.

5 O amor começa rindo,
   E rindo lá chega ao meio
   Mas por fim choramigando
   Acaba com o rosto feio.

6 Muito gosto, mas cautela,
   Não vos fieis em amor;
   Olhai que sempre o prazer
   Termina em cruenta dôr.

7 Gosto, e por toda a vida,
   Nascido só da candura
   De um amor todo delicia,
   De um amor todo doçura.

HOMENS

2 Gosto, que ella é muito bella,
   Gosto, que ella é muito boa,
   Gosto, que ela vos ama,
   Gosto, que é rica pessoa.

3 Amor é gosto e desgosto,
   Tudo alternativamente,
   Nem deixa de dar desgosto
   O gosto mais innocente.

4 Desgosto, que é tudo assim,
   E tende resignação.
   Pr'a supportardes o tedio
   Da casa da Correcção

5 Desgosto, porque por fim
   Tereis vergonha de tal,
   Pois amar a uma tonta
   Não é cousa natural.

6 Gosto; quem ama e adora
   A uma boa doceira,
   Traz sempre o gosto na boca,
   E até mesmo na algibeira.

7 Morte, morte de desgosto
   Vos decreta a sorte impia,
   Todo o remedio é baldado,
   Nem vos salva a homœopathia!

SENHORAS

8 Ao principio é bello tudo,
   Tudo em materias de amor,
   Ao depois mudam-se as scenas,
   E o prazer troca-se em dôr.

9 Gosto suave e sereno,
   Que vos alegre a existencia,
   De sorte que sempre a amor
   Dareis toda a preferencia.

10 Lendo as cartinhas de amor,
   Gosareis summo prazer..
   Isso tudo é theoria,
   Na pratica hemos que ver.

11 Nem uma, nem outra cousa,
     Porque sois muito insensivel;
     Para vós tudo é inetil,
     Tudo é incomprehensivel.

12 Conforme for vosso amante
     Não achais que é razoavel?
     Procurai pois um velhinho
     Prudente, bom e amavel...

HOMENS

8 Gosto, sim, quando o tiverdes,
  Desgosto depois de o ter,
  Que por gosto devereis
  Grande desgosto soffrer.

9 Desgosto quando souberdes
  Que nem sequer sois amado;
  Sois um páo de cabelleira
  Muito bem aproveitado!

10 Desgosto a primeira vez,
  E pela segunda gosto,
  Mas a final, meu amigo,
  Morrereis de algum desgosto.

11 Do gosto nasce o desgosto,
  E vós tudo isso tereis,
  Pois da vida bens e males
  Incessantes soffrereis.

12 Desgosto por ver aquella
  A quem destes o coração,
  Vos trahir horrivelmente,
  E com tanta ingratidão.