Parnaso mariano (1890)/Poesias/LXXI: Salve Rainha
Salve, celeste pombinha;
Salve, divina belleza;
Salve, dos anjos princeza;
E dos céos Salve Rainha.
Sois graça, luz e concordia
Entre os maiores horrores;
Sois guia de peccadores,
Madre de Misericordia.
Sois divina formosura;
Sois entre as sombras da morte
O mais favoravel norte;
E sois da vida doçura.
Porto, em que mais se resalve
Nossa fé que sois se alcança:
Sois, por ditosa esperança,
Esperança nossa; salve.
Vosso favor invocamos
Como remedio o mais raro:
Não nos falte o vosso amparo;
E vède que a vós bradamos.
Os da patria desterrados,
Viver da patria desejam.
Quereis vós que d’ella sejam
D’este mundo os degredados?
Se Deus tanto agrado leva
De com os homens viver,
Como póde ausentes vèr
Os mesmos filhos de Eva?
Humildes vos invocamos
Com rogos enternecidos;
E a esse amparo rendidos,
Senhora, a vós suspiramos.
Se Deus nos perdôa, quando
A nossa culpa é chorada;
Todos, por ser perdoada,
Estão gemendo e chorando.
Mas vós, por quem menos vale
Lirio do valle, chorais?
E o vosso pranto val’ mais
Neste de lagrimas valle.
Já que tão piedosa sois,
Senhora, com o vosso rogo
Alcançae-nos perdão logo;
Apressae-vos, eia pois.
Porque desde agora possa
Triumphar qualquer de nós
De inimigo tão atroz,
Pedi, advogada nossa.
E em quanto n’estes abrolhos
Do mundo postos estamos;
De nós que o caminho erramos
Não tireis os vossos olhos.
Sejam sempre piedosos
Para nos favorecer;
E para nos defender
Sejam misericordiosos.
Pois remediar nos quereis
De vossos olhos co’a guia,
Gloriosa Virgem Maria,
Sempre elles a nós volvei.
Livrae-nos de todo o erro,
Para que assim consigamos
Graça, em quanto aqui andamos
E depois d'este desterro.
E pois vosso filho é a luz,
E alumiar-nos quereis;
Para que esta luz mostreis,
Nos mostrae a Jesus.
E se como raio bruto
O fructo vemos vedado,
N’outro paraiso dado
Veremos o bento fructo.
Em nossos corações entre
Seu amor; pois é razão,
Seja meu do coração
O que foi do vosso ventre.
De Jericó melhor rosa,
Puro e candido jasmim,
Quereis vós que seja assim,
Oh! clemente! oh! piedosa!
Tenhamos nossa alegria,
Esta doçura tenhamos;
Pois que tanta em vós achamos,
Oh doce Virgem Maria!
Se quem mais póde sois vós,
Chegando a Deus a pedir;
Para melhor vos ouvir,
Pedi-lhe, rogae por nós.
Que então os favores seus
Muito melhor seguramos;
Pois que n’elles empenhamos
A Sancta Madre de Deus.
Dae-nos fortaleza e tinos
D’este mundo contra os sustos;
Porque os bens sigamos justos,
Para que sejamos dinos.
E se nos concedeis isto
Que vos pede o nosso rogo,
Mui dignos nos fazeis logo
Ser das promessas de Christo.
Seja pois, divina luz;
Melhor estrella, assim seja,
Para que por nós se veja
Vosso amparo. Amen Jesus.
Gregorio de Mattos Guerra.