Passame por Dios barquero

Wikisource, a biblioteca livre

(Cancioneiro de Elvas)
Pasſame por Dios barq̃ro,
daquella parte del rio,
duelete del amor mio.

Que si pones dilacion
En venir a socorrerme
No podrás depues valerme
Segun crece mi passion.
No quieras mi perdicion
Pues en tu bondad confio
Duelete del amor mio.

(Cancioneiro de Lisboa)
Paſſame por Dios Barquero
daquella parte del Rio.
duelete del dolor mio.

Que se puenes dilaciõ
en uenir a ſocorrerme.
non podras deſpues valerme
ſegũ creſce mi paſſion
No queras mi perdiçion
pues en tu bondad confio:
duelete del dolor mio.

(Cancioneiro de Palácio)
paſame por dios varq̃ro
daq̃ſa parte del rrio
duelete del dolor mio

q̃ ſi pones dilaçiõ
ẽ venir a ſocorrerme
no podras deſpues valerme
ſegũ mi grave paſiõ
no q̃eras mi ᵱdiçion
pues ẽ tu bondad cõfio
duelete del dolor mio

que deſa parte ſe falla
deſcanſo de mis tormẽtos
y en aqueſta la batalla
de mis triſtes ᵱdimiºs
o ventura trae los viẽtos
homildes mãſos ſin brio
duelete [del dolor mio]

por que deſa parte eſta
gloria deſcanſo holgura
y en eſta do ſto aca
congoxa penas triſtura
pues no niegues la ventura
queſta pueſta en tu navio
duelete del dolor mio.

lo que la ventura ordena
inpoſible es rremediar
por dar aliuio a tu pena
quiſierate aca paſar
mas eſta triſte cadena
tiene preſo mi navio
duelete [del dolor mio]

deſata o quiebra varquero
la cadena o el candado
pues me vees tan penado
no te mueſtres laſtimero
ſy no hases lo que quiero
coharme en este rrio
duelete [del dolor mio]

no dilates la partida
ſiente por dios lo q̃ ſiento
q̃ mayor es el tormento
q̃ pareçe la herida
no detardes la venida
porq̃n tardarſe el navio
tardaſe el rremedio mio.

(Tradução)
Passa-me, por Deus, barqueiro
Desta parte do rio,
Tem dó da minha dor.

Que se te demoras
Em vir a socorrer-me,
Não poderás depois valer-me
Segundo cresce a minha paixão.
Não queiras a minha perdição
Pois na tua bondade confio,
Tem dó da minha dor.

Que dessa parte se encontra
Descanso de meus tormentos,
E nesta a batalha
De meus tristes perdimentos.
Oh Ventura, traz os ventos
Humildes, mansos, sem vigor,
Tem dó da minha dor.

Porque dessa parte está
Glória, descanso, folgança,
E nesta, cá onde estou
Angústia, penas, tristura.
Pois não negues a ventura
Que está posta em teu navio,
Tem dó da minha dor.

O que a Ventura ordena
Impossível é remediar,
Por dar alívio à tua pena
Quisera-te cá passar.
Mas esta triste corrente
Tem preso o meu navio…
Tem dó da minha dor.

Desata ou quebra barqueiro
A corrente ou o cadeado,
Pois me vês tão penado
Não te mostres lastimoso.
Se não fazes o que quero
Colher-me neste rio,
Tem dó da minha dor.

Não demores a partida
Sente, por Deus, o que sinto,
Que maior é o tormento
Que parece a ferida.
Não atrases a vinda
Porque ao tardar-se o navio,
Tarda-se o meu remédio.