Paulo/XI
Emília completava 15 anos.
Paulo tinha 20 anos completos.
Amaram-se reciprocamente desde a primeira vez que se viram.
Paulo amou aqueles olhos azuis, as tranças douradas daqueles cabelos louros, a tez daquelas faces brancas como as angélicas, a candidez daquele semblante, que tão bem revelava toda a inocência do coração; aqueles lábios que roubavam o carmim das asas das colheireiras; aquelas palavras singelas, a simplicidade do traje daquele corpo gentil e flexível nos seus movimentos, como a delgada palmeira que cresce à margem dos nossos rios, e que, à tardinha, sacudida pela viração das matas, parece nos seus meneios ansiar por ir deitar-se ao lado de sua sombra, que se reclina à superfície das águas. Amou aquele espírito de 15 anos, que era como âmbula de perfumes das açucenas de amor.
Emília amou a luz daqueles olhos pretos e inteligentes, e a modéstia daquela larga fronte; os extremos do filho a seu ar e a dedicação do homem ao labor; a resignação do gênio na sua obscuridade e a poesia daquele coração de órfão, tão esquecido dos homens, e de dia em dia mais cheio de crenças.
Viram-se, estremeceram ambos e baixaram os olhos.
Tinha-se-lhes abalado a fibra do primeiro amor.
Daí, até aquela hora, nunca se trocaram uma palavra, uma só por que um e outro se revelasse. Quando a ocasião os deixava juntos e sós, esses instantes pareciam-lhes curtos para pronunciarem essa palavra que lhes nadava à flor dos lábios!
Olhavam-se, compreendiam-se e o amor florescia.