Paulo/XIII

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Paulo preparou-se para a viagem, sendo o seu primeiro cuidado depositar nas mãos do comendador a metade do dinheiro que economizara, para que ele em caso do precisão socorresse sua mãe.

Alguns dias se passaram.

Já era preciso partir. Paulo estava pronto, e no outro dia pela manhã o vapor levantava âncora.

Aí, adeuses de mãe, de irmãos e noivos!

Lágrimas e soluços de quem vai pela primeira vez ver ao longe sumirem-se aqueles lares que tantos afagos têm.

Agora tu, tu, mágico doer do coração, saudade!

Virgem pálida, de olhos elanguescidos, que reclinas as faces sobre a mão tão alva como as penas da garças, e te deixas, à tardinha, ir adormecendo à janela, enquanto os zéfiros vão sorvendo o perfume das tranças de teus cabelos: virgem pálida, que doer é esse que te alenta o coração?

Saudade!

Ancião, que paras à beira do caminho, e arrimando-te ao bastão levantas os olhos ao velho cedro que te fica em frente, e como que o saudando murmuras - bem me lembro! bem me lembro! que mágico doer é esse e te traspassa até o fundo do coração?

Saudade!

Marinheiro, que ao suspender do ferro, vais soltando esses pesados gemidos, que são como os estribilhos de cantigas tristes as desoras da noite ouvidos; marinheiro, que ao rigor das tempestades e calmarias embruteceste a voz como o semblante, que tristeza é essa que te alinda a fronte? Que voz é essa de entristecer os corações?

Saudade!

Saudade, página de reminiscências íntimas, que a seu tempo se inscreve no coração humano, fadou-te Deus esse mágico doer...

Saudade e só saudade era o que restava e o do que se ia alentar o coração do jovem artista.