Pensar é preciso/V/O último Profeta
O sucesso do Islamismo deve-se, a meu ver, ao fracasso do Cristianismo. Após mais de seis séculos, a doutrina do amor e da fraternidade ensinada por Jesus não surtiu os efeitos esperados. A Igreja de Roma, ao acumular o poder espiritual e temporal, lançou a Europa no mais nefasto obscurantismo, de que falei no capítulo anterior. Destruiu a cultura greco-romana sem conseguir colocar em seu lugar uma nova proposta civilizacional, capaz de levar a humanidade ao progresso e à justiça social. O regime feudal, a que o Catolicismo aderiu, aumentou o fosso entre ricos e pobres. Os nobres e os altos clérigos passaram a constituir as duas classes dominantes, enquanto a grande massa do povo (a terceira classe) vivia na miséria e na ignorância.
Portanto, conforme a mentalidade vigente de subserviência a uma divindade, urgia o nascimento de um novo Messias. E apareceu Maomé. Visto que o núcleo original da civilização humana fora o Oriente Médio e que o Salvador dos judeus (Moisés) e dos cristãos (Jesus) não deram conta de resolver os graves problemas sociais e morais, que tal experimentar outro Profeta, desta vez oriundo de uma comunidade árabe? O advento de Maomé não representa a invenção de uma nova religião, mas a “restauração” dos ensinamentos originais do Judaísmo e do Cristianismo, que tinham sido esquecidos ou estavam corrompidos. Tanto é verdade que os próprios muçulmanos acham errado o termo “maometista”, pois Maomé sempre teve consciência da sua humanidade e em momento algum se considerou um Deus que veio ao mundo para impor uma nova religião. Sempre se considerou apenas outro Profeta, porta-voz de Alá, o nome árabe de Deus, o mesmo em quem acreditavam os fiéis das duas anteriores religiões monoteístas: Judaísmo e Cristianismo.