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Poesias (Zaluar)/6

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POESIA VI

 

 

Se tu és anjo? — Vem pousar-te, oh! vem
Ao pé d′harpa chorosa, em que descanto,
Accende em turbilhões meu estro altivo,
Pelo espaço voando irei cantar-te
Inefaveis ternuras!

E quero então adorar-te
Rojada a fronte no chão:—
E pedir-te p’ra minha alma
Um só ai de compaixão!

Se tu és sombra? — Uma visão? — um sonho?
Envolto sempre em luminoso manto....
Eu quero ver passar-te no silencio
Da noite socegada,—derramando
Perfumes nos teus passos!

E ficarei largo tempo—
Triste.... bem triste a penar :
Pendida a fronte no peito,
E pensativo a chorar!

Se és archanjo de luz, ou de mysterio,
Ou a fonte, que suspira no deserto;
Ou a brisa, que sicia na ramagem,
Ou os canticos da lyra, que revela
Os sonhos de innocencia !

Ou archanjo, — ou fonte, — ou brisa,
Eu quero-te sempre adorar!
As harmonias, que entornas,
Eu quero sempre escutar!

 

Se és mulher?... Então calcaste o facho,
Quebraste o genio, que o poeta inspira!
A teus pés rasgaste ultimo canto,
Que illudido vibrei n’esta harpa minha
Ás formosas da terra!

Vai.... mulher, não quero amar-te—
Sabes qual é minha sorte?
Eu fui, — eu sou condemnado
A seguir, — seguir meu norte;
Atraiçoado por ′todas
Até ás portas da morte!

 

Abril de 1846.

 

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