Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/A uma amiga, que casou contra vontade da familia

Wikisource, a biblioteca livre
A uma amiga, que casou contra a vontade da familia.
 

Vai d'amor o deus voando,
Alegre nova vai dar,
De Marilia o hymineu
Lá no Olimpo foi contar:

Já de Jupiter aos pés
A dextra lhe vai beijar;
Era tempo, ella lhe diz,
De Marilia premiar.

Longo tempo ella soffreu
Dos fados atroz rigor,
Que desfructe hoje ditosa,
O grato premio d'amor.

Não captivaram seu peito
O fausto, nem vás grandezas,
Ella prefere a virtude
A's illusorias riquezas.

Embora amigos, parentes,
Censurem sua união;
Que importa? se ella é ditosa,
Se folga seu coração?

Só na virtude consiste
A verdadeira nobreza;
Os homens todos iguaes
Fez a sabia natureza.

Deste par os doces laços,
Grande Jupiter, bem diz;
Lança-lhe a benção divina,
Torna-o alegre, feliz.

Ouviu Jove mui gostoso,
De Cupido a narração,
Ordenando lá no Olimpo,
Festejos, grande funcção!

Já Orfeu tempéra a lyra,
Ternas canções entoando,
As virtudes de Marilia
Os deuses todos cantando!