Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/No dia dos annos do illm.o sr. A. J. F.
Do Illustrissimo Faria
Os annos cantar desejo,
D'Orfeo a lyra sonora
Eu só n'este dia invejo!
Corre, vem, Musa, supprir
Das regras, e d'arte a falta ;
Inspira-me ideas grandes
P'ra esta empreza a mais alta!
Mas que vejo! Lá dos Céos,
Vem uma nuvem descendo,
Que uma celeste figura,
Para a terra vem trazendo!
Era Minerva, que assim
Por est'arte me fallou:
(Quando ao ver os versos meus,
Ella sorriu, e zombou).
«Que intentas, fraca mortal,
«Que temeraria ousadia!
«Pensas tu, que cabe a humanos
«Essa empreza n'este dia?
«Já Apollo a penna d'ouro
«Cuidadoso preparou,
«E quanto dictado havia,
«Em um momento riscou:
«Nada, isto não 'stá bom,
«(Exclamou o Deos zangado);
«D'este mortal as virtudes,
«Excedem quanto hei dictado!
Isto disse, e apóz instantes,
Entre as nuvens s'escondeu.
Depois que a empreza minha
Mui severa reprehendeu!,
As minhas singelas trovas
Ao fogo logo lancei,
E cantar altas virtudes
Só para os Deuses deixei.