Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Horas de Tristeza
Aspeto
Horas de tristeza.
Amo da noite o silencio,
Amo a Lua triste, c bella,
Amo os cantos tão sentidos
Da saudosa filomela.
Amo os solitarios bosques,
Amo o ruido das vagas,
Amo divagar sósinha
Lá n'essas desertas plagas!
Do triste, que já não vive,
Amo a campa abandonada,
Amo a donzella, que chora
A ventura já passada!..
Amo quem na Patria deixa
Parentes, amor, ventura,
Quem longe nutrir saudades,
Vae sósinho, em amargura!
Amo isoladas montanhas,
Amo a fresca madrugada,
Amo o triste lirio roixo,
Amo a rosa desmaiada.
Amo a tarde ao por do Sol,
Amo a fonte cristalina,
Amo a virgem, que suspira,
Amo a estrella matutina.
Até do cisne expirante
Amo o canto mavioso,
Amo tudo quanto ha triste.
Amo quem é desditoso!..