Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Bernardim Ribeiro

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Bernardim Ribeiro.
 

Que saudades não sentiu
O desditoso amador,
Quando do Tejo partiu
Beatriz, o seu amor!
No baixel os olhos filos,
Ai, que momentos afflictos!
Soffreu da sorte os delictos,
E lá d'esse averno o horror!..

Ao Paço o real cortejo
Saudoso se recolhia,
E só nas margens do Tejo
Um desgraçado se via!
Immovel, extasiado,
Para o mar inda voltado,
Intento desesperado
Nesse instante lhe ocorria!..

Oh! n'esse abismo do mar,
A' vida termo quiz por,
Acabar o seu penar;
Ir sepultar sua dor,
Mas hesita; quer viver,
Quer amar, e padecer,
D'instante a instante morrer,
Pensando no seu amor!

Poeta desventurado,
Foi como Tasso, e Camões;
Foi lambem contrariado,
Como elles nas paixões.
Infeliz, e perseguido,
Por que tinha comprehendido
Da Princeza o amor subido,
Que liga dous corações!

E Beatriz, que saudade
Em su'alma não soffreu!..
D'esp'rança a felicidade,
No coração lhe morreu...
Quanto em silencio sentia,
Ah! Ninguem o comprehendia,
Nem ella seu peito abria,
Na soledade gemen!

N'esse consorcio cuidárão,
Tornal-a mui venturósa ;
Porem, como s'enganárão!..
Longe da Patria, saudosa,
Foi nutrir sua paixão,
Occultar no coração
Segredos, que d'amor são;
Beatriz não foi ditósa !..