Pois me deixais pelo jogo

Wikisource, a biblioteca livre

Pois me deixais pelo jogo,
licença me haveis de dar
para vos satirizar
como amigo.
  
Fará isso um inimigo,
deixares-me miserando,
por estar sempre beijando
o ás de copas.
  
Quando andáveis lá nas tropas
de tanta campanha armada,
jogáveis jogo de espada
ou da espadilha?
  
Quem vos meteu a potrilha,
para estares noite, e dia
na triste tafularia
de um cruzado?
  
Não é melhor desenfado
passares à Cajaíba,
onde o jogo vos derriba
e escangalha?
  
É mau ver esta canalha
Clara, Bina, e Lourencinha,
a quem dizeis a gracinha
de soslaio?
  
É mau encaixar-lhe o paio
encostado aqui na torre,
e ela dizer-vos, que morre
de olho em alvo?
  
É mau meteres o calvo
entre tanta pentelheira,
e sair co'a cabeleira
encrespadinha?
  
Que mau é Mariquitinha,
quando está com seus lundus
fazer-vos com quatro cus
o rebolado?
  
Quem vos chamar home honrado,
não tem honra, nem razão,
que vós sois um toleirão,
e um Pasguate.
  
Mas se deixais por remate
esse jogo, esse monturo
sois Príncipe, que de juro
senhoreia.
  
Sois o Mecenas da veia
deste Poeta nefando,
que aqui vos está esperando
com jantar, merenda, e ceia.