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VIAGENS MARAVILHOSAS

tabelecermos no paiz onde hoje se levantam as cidades de Durban e de Porto Natal.

«Mas esse grandissimo patife deu-nos tal auctorisação com o pensamento reservado de nos atacar quando o nosso estado fosse prospero. Mas tambem todos nos armámos para a resistencia, e foi à custa de esforços inauditos, e posso dizel-o, de prodigios de valor em mais de cem combates, nos quaes as nossas mulheres e até os nossos filhos luctavam a nosso lado, que podémos ficar na posse d'aquellas terras, regadas com o nosso suor e com o nosso sangue.

«Ora, apenas tinhamos definitivamente triumphado do despota negro e destruido o seu poder, quando o governador do Cabo mandou uma columna britannica com a missão de occupar o territorio do Natal, em nome de sua magestade a rainha de Inglaterra!... Já o senhor vae vendo : eramos subditos inglezes! Isto passava-se em 1842.

«Outros emigrantes nossos compatriotas tinham por modo identico conquistado o Transvaal e aniquilado no rio Orange o poder do tyranno Moselekatze. Tambem elles viram confiscada, por uma simples ordem do dia, a nova patria que com tanto soffrimento tinham pago!

«Passo em claro as minucias. Esta lucta durou vinte annos. Nós a avançarmos cada vez mais e sempre a Gran-Bretanha a estender a avida mão sobre nós, como se fossemos servos que pertencessemos á sua gleba, ainda mesmo depois de a termos abandonado!

«Finalmente, ao cabo de muitos trabalhos e luctas sangrentas, foi-nos possivel fazer reconhecer a nossa independencia no Estado Livre do Orange. Uma proclamação real, assignada pela rainha Victoria e com a data de 8 de abril de 1854, garantia-nos a livre posse das nossas terras e o direito de nos governarmos á nossa vontade. Constituimo-nos definitivamente em