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A cidade e as serras

202, desde folhas de limonete da India até essencia de jasmin de França: e lavei a alma com uma rica carta da Tia Vicencia, em letra farta, contando da nossa casa, e da linda promessa das vinhas, e da compota de ginja que nunca lhe sahíra tão fina, e da alegre fogueira do pateo em noite de S. João, e da menininha muito gorda e cabelluda que viéra do ceu para a minha afilhada Joanninha. Depois, á janella, bem limpo de alma e de corpo, n’uma quinzena de sedinha branca, tomando chá de Naïpò, respirando os rosaes do jardim revividos pela chuva da madrugada, considerei, em divertido pasmo, que, durante sete semanas, me emporcalhára, na rua do Helder, com um estardalho muito magro e muito tisnado! E conclui que padecera d’uma longa sezão, sezão da carne, sezão da imaginação, apanhada n’um charco de Paris — n’esses charcos que se formam através da Cidade com as aguas mortas, os limos, os lixos, os tortulhos e os vermes d’uma Civilisação que apodrece.


Então, curado, todo o meu espirito, como uma agulha para o Norte, se virou logo para o meu complicado Principe, que, nas derradeiras semanas da minha infecção sentimental, eu entrevira sempre descahido por cima