Página:A cidade e as serras (1901).pdf/129

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
115

os braços, gemendo — «Oh vida maldita!» Eram apenas expressões saciadas; um gesto de repellir com rancôr a importunidade das coisas; por vezes uma immobilidade determinada, de protesto, no fundo d’um divan, d’onde se não desenterrava, como para um repouso que desejasse eterno; depois os bocejos, os ôcos bocejos com que sublinhava cada passo, continuado por fraqueza ou por dever inilludivel; e sobretudo aquelle murmurar que se tornára perenne e natural — «Para que?» — «Não vale a pena!» — «Que massada!...»

Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grillo:

— Jacintho anda tão mucho, tão corcunda... Que será, Grillo?

O venerando preto declarou com uma certeza immensa:

— S. Exc.a soffre de fartura.

Era fartura! O meu Principe sentia abafadamente a fartura de Paris: — e na Cidade, na symbolica Cidade, fóra de cuja vida culta e forte (como elle outr’ora gritava, illuminado) o homem do seculo XIX nunca poderia saborear plenamente a «delicia de viver», elle não encontrava agora fórma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esfôrço d’uma corrida curta n’uma tipoia