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A cidade e as serras

a mão suada e amiga do Pimentinha. Eu cedi a egua ao senhor de Tormes. E começamos a trepar o caminho, que não se alisára nem se desbravára desde os tempos em que o trilhavam, com rudes sapatões ferrados, cortando de rio a monte, os Jacinthos do seculo XIV! Logo depois de atravessarmos uma tremula ponte de pau, sobre um riacho quebrado por pedregulhos, o meu Principe, com o olho de dono subitamente aguçado, notou a robustez e a fartura das oliveiras... — E em breve os nossos males esqueceram ante a incomparavel belleza d’aquella serra bemdita!

Com que brilho e inspiração copiosa a compozera o divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão ricamente as dotou, n’este seu Portugal bem-amado! A grandeza egualava a graça. Para os valles, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, d’um verde tão môço que eram como um musgo macio onde appetecia cahir e rolar. Dos pendores, sobranceiros ao carreiro fragoso, largas ramadas estendiam o seu toldo amavel, a que o esvoaçar leve dos passaros sacudia a fragrancia. Atravez dos muros seculares, que sustem as terras liados pelas heras, rompiam grossas raizes colleantes a que mais hera se enroscava. Em todo o torrão, de cada fenda, brotavam