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A cidade e as serras
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d’uma janella, olham para os astros e os astros olham para elles. Uns, certamente, com olhos de sublime immobilidade ou de subllime indifferença. Mas outros curiosamente, anciosamente, com uma luz que acena, uma luz que chama, como se tentassem, de tão longe, revelar os seus segredos, ou de tão longe comprehender os nossos...

— Oh Jacintho, que estrella é esta, aqui, tão viva, sobre o beiral do telhado?

— Não sei... E aquella, Zé Fernandes, além, por cima do pinheiral?

— Não sei.

Não sabiamos. Eu, por causa da espessa crosta de ignorancia com que sahi do ventre de Coimbra, minha Mãe espiritual. Elle, porque na sua Bibliotheca possuia trezentos e oito tratados sobre Astronomia, e o Saber, assim accumulado, fórma um monte que nunca se transpõe nem se desbasta. Mas que nos importava que aquelle astro além se chamasse Syrius e aquelle outro Aldebaran? Que lhes importava a elles que um de nós fosse Jacintho, outro Zé? Elles tão immensos, nós tão pequeninos, somos a obra da mesma Vontade. E todos, Uranos ou Lorenas de Noronha e Sande, constituimos modos diversos d’um Sêr unico, e as nossas diversidades esparsas sommam na mesma compacta Unidade. Molleculas