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A cidade e as serras
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serio, murmurou: — «Diabo! é no melhor sitio!» Mas Todelle nem o escutára, correndo para o director do Boulevard, que se avançava, lento e barrigudo, com o seu monoculo negro semelhante a um pacho. Ambos se collaram contra uma estante, n’um cochichar profundo.

Jacintho e eu entramos então no bilhar, forrado de velhos couros de Cordova, onde se fumava. Ao canto d’um divan, o grande Dornan, o poeta neo-platonico e mystico, o Mestre subtil de todos os rithmos, espapado nas almofadas, com um dos pés sob a côxa gorda, como um Deus indio, dois botões do collete desabotoados, a papeira cahida sobre o largo decote do collarinho, mamava magestosamente um immenso charuto. Ao pé d’elle, também sentado, um velho que eu nunca encontrára no 202, esbelto, de cabellos brancos em anneis passados por traz das orelhas, a face coberta de pó de arroz, um bigodinho muito negro e arrebitado, findára certamente alguma historia de bom e grosso sal — porque deante do divan, de pé, Joban, o suprèmo Critico de Theatro, ria com a calva escarlate de gôso, e um moço muito ruivo (descendente de Colygny), de perfil de periquito, sacudia os braços curtos como azas, e gania: «delicioso! divino!» Só o poeta idealista permanecera impassivel, na sua magestade obesa.