prazer por ambos. Ainda quando não fôssem senhoras o seriam; a chegada de um terceiro, quando dois indifferentes estão na presença um do outro, em entrevista forçada e fatigadora, é sempre saudada interiormente como uma redempção.
Magdalena e Christina vinham ambas formosas, com a especie de mantilhas où capuzes de que usavam, adequados aos rigores de uma manhã de dezembro.
Appareceram ambas a rir. Foi o caso que, passando proximo do quarto de D. Victoria, pé ante pé, para não a acordarem, está presentiu-as, e mesmo do leito perguntou-lhes:
—Então já vão, meninas?
—Vamos, tia; vamos, mamã—responderam as duas a um tempo.
—O Luiz já partiu com o almoço?
—Já partiu, já, minha senhora.
—E ides agasalhadas?
—Como se fôssemos para a Siberia—respondeu Magdalena.
—Olhae, sempre levem os guarda-chuvas por cautela. E ide com NossaSenhora.
—Cá os levamos. Adeus, tia; adeus, mamã.
—Adeus, filhas; até logo, se Deus quizer. Olhae lá, não vos estafeis.
Ora os taes guarda-chuvas é que não iam. Para quê? Com uma manhã d’aquellas, que nem de inverno parecia, pois que até o frio abrandára com o vento! Por isso é que vinham ainda a rir.
Chegando ao pateo, cumprimentaram os seus dois companheiros. Henrique, depois de formular um galanteio a Magdalena, offereceu-lhe attenciosamente o braço, que Magdalena recusou com alguma impaciencia, porque se lembrou de Christina.
—Muito obrigada, primo,—disse ella com vivacidade.—Mas é preciso que o advirta de que não vamos passeiar pelas avenidas de um parque. Vamos trepar montés, atravessar ribeiras, costear pre-[1]
- ↑ "precipios" no original, erro tipográfico.