ordens, de perguntas, de reclamações, de conselhos, todos attinentes a negocios culinarios. E D. Victoria ralhava, e a sr.a de Alvapenha promulgava preceitos, e Maria de Jesus desdenhava do serviço das collegas, e Magdalena e Christina riam de todos e de tudo, e Angelo a todos impacientava.
Não se imagina!
A chegada do conselheiro e do seu hospede veio exacerbar a desordem. Ergueram-se risos e exclamações, as quaes ainda assim eram subjugadas pelos reparos e censuras de D. Victoria, a qual dizia para o conselheiro:
— Sempre o mano tem coisas! Olhem agora para o que lhe havia de dar! Vão lá para dentro, vão. Não venham atrapalhar-nos mais ainda do que estamos. E o primo Henrique tambem! Ora esta!...
— Não se afflija, mana. Nós não podiamos resignar-nos a ficar alheios á tarefa principal do dia. E até porque é necessario dar andamento a isto para chegarmos a tempo da missa do gallo.
— Pois querem ir á missa do gallo?
— Está de vêr que sim.
— Eu tambem vou — disse Christina.
— E eu — acudiu Magdalena.
— Mais um, que irá tambem — disse Henrique.
— E eu, e eu — accrescentaram differentes vozes.
— Ai, minhas encommendas! — suspirou D. Victoria. — Então por que não disseram isso logo? Agora como ha de ser?
E saiu em direcção á sala da ceia a dispôr as coisas.
É preciso que se diga que D. Victoria vivia na candida illusão de que era ella quem fazia tudo em casa, emquanto que manda a verdade declarar que nunca mais regularmente corriam as coisas domesticas do que quanto dormia esta aliás excellente senhora.