que eu conheci em Lisboa a rir-se do casamento?
— Por piedade, não me recorde esses peccados deante da prima Magdalena, que é tão rigorosa nos castigos!
— Diga antes, que sou tão excessiva nas recompensas.
— Mas o mano tem razão — disse D. Victoria. — Onde está a Christe? Admira-me não a vêr aqui!
— Admirar, não me admiro eu — tornou o conselheiro. — É provavel que soubesse do que se tratava, e eclipsou-se discretamente. Porque isto foi decerto discutido por as partes interessadas, antes de subir ao nosso tribunal.
Henrique e Magdalena sorriram.
— Ora se foi! E parece-me que tu, Lena, fizeste d’esta vez de S. Gonçalo. Deus queira que te não queimes ainda no fogo ao ateares d’estes fachos.
— Eu vou buscar a Christe — disse a morgadinha, rindo das palavras do pae; e saiu da sala como para evitar que a conversa seguisse a direcção que elle lhe deu.
O conselheiro voltou n’este intervallo a consultar papeis e cartas, emquanto D. Victoria falava com Henrique, e D. Dorothéa tentava distrahir Angelo, contando-lhe várias historias de creanças, que elle mal escutava, e que ella tinha a candura de julgar alimento accommodado á intelligencia d’elle.
Passados momentos voltava Magdalena, trazendo Christina comsigo, a qual já vinha com o rubor nas faces e com os olhos no chão.
— Aqui está a accusada — disse a morgadinha ao entrar.
O conselheiro tornou a guardar os papeis e disse jovialmente[1] para a sobrinha:
— Ora venha cá, venha cá, que temos muito que falar.
E passando-lhe a mão por baixo do queixo, para a obrigar a fital-o, continuou:
- ↑ "ovialmente" no original, erro tipográfico.