Página:A viuvinha. Cinco minutos.pdf/84

Wikisource, a biblioteca livre

e na sua saudade a auréola que cinge a fronte das mulheres belas; auréola que aos outros parece brilho de luz, mas que realmente é para aquelas que a trazem, chama de fogo.

Carolina resistia, envolvendo-se na branca mortalha de seu primeiro amor; mas a tela fez-se transparente e não lhe ocultou mais o que ela não queria ver. Sentiu-se arrastar e teve medo.

Teve medo de esquecer.

Não descreverei, minha prima, a luta prolongada e tenaz que travaram n'alma dessa menina a saudade e a imaginação. A senhora, se algum dia amou, deve compreender a luta e o resultado dela. O mundo venceu. Carolina tinha 15 anos e não havia libado do amor senão perfumes.

Mas, ainda vencida, ela defendeu contra a sociedade as suas recordações, que se tornaram então um culto do passado. Entrou nos salões, porém com esse vestido preto, que devia lembrar-lhe a todo o momento a fatalidade que pesara sobre a sua existência.

Excitou a admiração geral pela sua beleza. Não houve talento, posição e riqueza que se não rojasse a seus pés. Sabiam vagamente a sua história; suspeitavam a virgindade sob aquela viuvez e se lhe dava um toque de romantismo que inflamava a imaginação dos moços à moda.

Chamavam-na a Viuvinha.

A senhora deve tê-la encontrado muitas vezes, minha prima, no tempo em que começou a freqüentar a sociedade. Estava ela então no brilho de sua beleza. Na menina gentil e graciosa encarnara a natureza a