Página:Ao correr da pena.djvu/314

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bem sentimos não lhe poder dar mais do que uma pálida tradução.

Muito; não é um livro, é um álbum de músicas e desenhos, um lindo keepsake, em que os mais hábeis artistas trabalharam para fazer uma dessas obras-primas, dignas das mãozinhas delicadas para que são destinadas.

E, se ao menos uma dessas mãozinhas feiticeiras quisesse folhear comigo as páginas desse pequeno livro da vida, talvez pudesse ler nele coisas bem lindas, que diria aos meus leitores, visto que não sou egoísta.

Abriríamos as primeiras páginas, e poderíamos ver essas belas noites de luar que tem feito, e um céu tão puro, e umas estrelas tão brilhantes, que ficaríamos encantados.

Poderíamos sentir a frescura dessas tardes serenas, ou acompanhar esses bandos de moças que passeiam, e ouvir as suas falas doces e os seus risos alegres e festivos.

Se tendes queda pelos antigos costumes dos nossos pais, que já vão caindo em desuso, iríamos correr as barracas do Espírito Santo, e talvez nos lembrássemos daquelas novenas do campo tão encantadoras com as suas ruas de palmeiras e as suas toscas luminárias.

Também podíamos passear aos belos arrabaldes da cidade, a Botafogo, às Laranjeiras, ao Engenho Velho ou a Andaraí, e, fugindo o gás, ir apreciar o luar na sua beleza primitiva, no meio das árvores e por entre as folhagens.

Mas voltemos a página. Estamos na terça-feira, no salão do Teatro Lírico, assistindo ao concerto do Arnaud.

Podemos ouvir boa música, de diferentes maestros e de gostos diversos, desde o travesso romance francês até a verdadeira música italiana cheia de sentimentos e de poesia.

Arnaud tocou, com o gosto que todos lhe conhecem, uma fantasia sobre motivos da Sonâmbula, e duas composições suas dedicadas a S.M. a Imperatriz e ao Rei de Nápoles.