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XXXIII

Um dia, pois, que à sombra desejada
Se repousam, passando a calma ardente,
Por dar alívio à dor reconcentrada
De ver-se escravos de tão fera gente,
Fernando, um deles, diz, que aos mais agrada
Por cantigas que entoa docemente,
Que em cítara, que o mar na terra lança,
Se divirtam da fúnebre lembrança.

XXXIV

Mancebo era Fernando mui polido,
Douto em letras e em prendas celebrado,
Que, nas ilhas do Atlântico nascido,
Tinha muito coas musas conversado;
Tinha ele os rumos do Brasil seguido
Por ver o monumento celebrado
De uma estátua famosa que num pico
Aponta do Brasil ao país rico.

XXXV

Pedira-lhe Luís, que isto escutara,
De profética estátua o conto inteiro,
Se foi verdade, se invenção foi clara
De gente rude ou povo noveleiro.
Fernando então, que em metro já cantara
O sucesso, que atesta verdadeiro,
Toma nas mãos a cítara suave
E, entoando, começa em canto grave.