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IX

Nas brancas mãos, que angélicas se estendem,
Um desmaiado azul nas veias tinto,
Faz parecer aos olhos, quando atendem,
Alabastros com fundos de jacinto.
Ambas com doce abraço ao seio prendem
Formosura maior, que aqui não pinto;
Porque para pincel me não bastara,
Quando Deus já criou, quanto criara.

X

Mas, se não se dedigna o verbo santo,
Por nosso amor, de um símbolo rasteiro,
Dentro parece do virgíneo manto,
Pascendo em brancos lídios um cordeiro.
Os olhos com suavíssimo quebranto
Lhe ocupa um doce sono lisonjeiro;
À roda os serafins, que o estrondo impedem,
Para o não despertar silêncio pedem.

XI

Aos pés da mãe piedosa superada
Vê-se a antiga serpente insidiosa,
De que a fronte na culpa levantada
Quebra a planta virgínea gloriosa;
E, enroscando os mortais já quebrantada,
Ao céu só da Virgem poderosa,
No mais fundo do abismo se submerge,
E o feral antro do veneno asperge.