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LXXII

Com maior cerimônia outra visita
Festiva celebrava o seu cortejo;
Femínea turba, que o costume incita
A oferecer-se honesta ao seu desejo.
Senta-se sobre os pés e felicita,
Cobrindo o rosto a mão, como por pejo;
Vestidas vêm de folhas tão brilhantes,
Que o que falta ao valor têm de galantes.

LXXIII

Parece ser da mesa o despenseiro
Um selvagem, que o nome lhe pergunta:
Se tem fome, lhe diz; ou se primeiro
Quereria beber? e logo ajunta,
Sem mais resposta ouvir, sobre o terreiro
A comida que trouxe em cópia munta:
Põe-se-lhe uiçu de peixe e carne crua
E o mimoso cauim, que é paixão sua.

LXXIV

Todos com gula comem furiosa,
Sem olhar, sem falar, nem distrair-se;
Tanto se observem na paixão gulosa,
Que mal pudera ao vê-los distinguir-se
Se são feras ou homens. Vergonhosa,
Triste miséria humana! confundir-se
Um peito racional c’o um bruto feio
No horrendo vício donde o mal nos veio!