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LXXXVII

Põe-lhe de fuga os olhos, que abaixara;
E, ou de amante ou também de vergonhosa
Um tão belo rubor lhe tinge a cara,
Como quando entre os lírios nasce a rosa:
Três vezes quis falar, três se calara;
E ficou do sossobro tão formosa,
Quanto ele ficou cego; e em tal porfia,
Nem um, nem outro então de si sabia.

LXXXVIII

Mas, refletindo logo, o herói prudente,
Fixou no coração com fé segura,
Não cumprir as promessas de presente,
Antes que lhe entre n'alma a formosura.
Rende-lhe o seu amor, mas inocente;
E faz lhe prometer que com fé pura,
Enquanto se não lava e regenera,
Em continência viverão sincera.

LXXXIX

"E esta fé (diz-lhe), esposa em Deus querida,
Guardar-te hoje prometo em laço eterno,
Até banhar-te n'água prometida,
Por cândida afeição de amor fraterno.
Amor, que sobreviva à própria vida,
Amor, que preso em laço sempiterno,
Arda depois da morte em maior chama,
Que assim trata de amor quem por Deus ama."