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VI

A chuva, a neve, o vento, a tempestade
Quem a rege? a quem segue? ou quem a move?
Quem nos derrama a bela claridade?
Quem tantas trevas sobre o mundo chove?
E este espírito amante da verdade,
Inimigo do mal, que o bem promove,
Coisa tão grande, como fora obrada,
Se não lhe dera o ser, quem vence o nada?

VII

Quem seja este grande ente, e qual seu nome,
(Feliz quem saber pode) eu cego o ignoro;
E, sem que a empresa de sabê-lo tome,
Sei que é quem tudo faz e humilde o adoro.
Nem duvido que os céus e terra dome,
Quando nas nuvens com terror o exploro,
Deixando o mortal peito em vil desmaio,
Ameaçar no trovão, punir no raio.

VIII

Só pasmo se nos fez como não veio,
Devendo amar o que obra de mão sua,
Ao mundo de anhangás cercado e cheio
A livrar o homem dessa besta crua!
Como é possível que não desse um meio,
Com que a mente ignorante, enferma e nua
Tratar com ele possa, quando é claro
Que o pai não deixa o filho em desamparo?