Página:Caramuru 1781.djvu/89

Wikisource, a biblioteca livre
XXIV

Costumes são da oculta antiguidade
Que o grão-Tamandaré desde alta origem
As gentes ensinou, com que à piedade
Todas no mundo as almas se dirigem;
E quando algum conteste esta verdade,
Provam-na os anhangás que nos afligem,
Pedindo aos nigromantes que a alma vendam
No que uma alma imortal nos recomendam.

XXV

Que é desde nossos pais fama constante
Que aonde o sol se pule fama montanhas
Há um fundo lugar de que é habitante
O pérfido anhangá com cruéis sanhas:
Ali de enxofre a escuridão fumante
Com portas encerrou Tupá tamanhas,
Que as não pode forçar nem todo o inferno:
A morte é a chave, e o cadeado é eterno.

XXVI

Dentro nada se vê na sombra escura;
Mas no vislumbre fúnebre e tremendo
Distingue-se com vista mal segura
Um antro vasto, tenebroso e horrendo;
Ordem nenhuma tem; tudo conjura
Ao sempiterno horror, que ali compreendo:
Mutuamente mordendo-se de envolta,
Um noutro agarra, se o primeiro o solta.