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924 DOM JOAO VI NO BRAZIL

de regresso, alguns, mui raros, contribuiram por este ou aquelle motive, por vontade ou por necessidade, para o embel- lezamento da sede ultramarina da monarchia ( i ) .

Nao se podia, e bem de ver, passar a vida inteira em re- cordagoes saudosas do passado ou mesmo risonhas esperangas do porvir. O presente tinha suas exigencias, e era mister ir tratando de fazel-o agradavel ahi mesmo, n esse desterro colonial que podia ainda durar annos. A mocidade sobretudo, que nao tinha as mesmas razoes para tristezas e decepgoes adrede exaggeradas, reclamava seus folgares e suas distrac- goes. Por isso escrevia Marrocos (2) que "a toda a pressa se esta apromptando huma casa de Opera particular no sitio de Botafogo, para divertimento de SS. AA. as Meninas; e das Fidalgas suas criadas : os Representantes sao os mesmos Fidalgos rapazes, que fazem figuras utriusque sexus; e he muito natural que as Fidalgas mogas os vistao, ornem e en- feitem, tudo gratis. Ja se repartirao as partes; e me parece cousa muito digna que elles se occupem n hum exercicio, que no tempo presente Ihes he bem analogo, visto que vao ja a sahir os Francezes da Peninsula: e alguns dahi vierao mui fatigados com o peso das armas."

Pondo de lado as maldades do correspondente, ve-se que a vida de corte assim espontaneamente renascera, pois que a praia de Botafogo, onde d antes apenas viviam nas suas cabanas ciganos e Pescadores, ja era lugar de tao aris- tocraticos folguedos. E foros taes de largueza foi ganhando a convivencia que, poucos annos depois, mandava o mesmo iro-

��(1) "Esta-se edificando hum grande Talacio para a Duqueza de Cadaval aqui no sitio das Laranjeiras. Ella -Q seus filhos langaram as primeiras pedras nos alicerces. O Architecto he Francez, e affir- mao-me que todos os Mestres tambem o sao." (Carta de 21 de Se^em- bro de 1810.)

(2) Carta de 28 de Setembro de 1813.

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