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Ultima das creatúras inferiores
Governada por atomos mesquinhos,
Teu pé mata a uberdade dos caminhos
E esterilisa os ventres geradores!

O áspero mal que a tudo, em torno, trazes,
Análogo é ao que, negro e a seu turno,
Traz o ávido phyllóstomo nocturno
Ao sangue dos mammiferos vorazes!

Ah! Por mais que, com o espirito, trabalhes
A perfeição dos seres existentes,
Has de mostrar a carie dos teus dentes
Na anatomia horrenda dos detalhes!

O Espaço — esta abstracção spencereana
Que abrange as relações de co-existencia
É só! Não tem nenhuma dependencia
Com as vertebras mortaes da especie humana!

As radiantes ellipses que as estrellas
Traçam, e ao espectador falsas se antolham
São verdades de luz que os homens olham
Sem poder, no entretanto, comprehendel-as.

Em vão, com a mão corrupta, outro ether pedes
Que essa mão, de esqueleticas phalanges,
Dentro dessa agua que com a vista abranges,
Tambem prova o principio de Archimedes!

A fadiga feroz que te esbordôa
Ha de deixar-te essa medonha márca,
Que, nos corpos inchados de anasárca,
Deixam os dedos de qualquer pessoa!