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xador Lourenço Pires de Tavora a El-Rei, que tinha escolhido Achilles Estaço para fazer e recitar a oração da obediencia a Sua Santidade[1]. É no mesmo espirito que se exprime Brantome, quando, ao manifestar a opinião de que o cargo de Embaixador fosse provido antes em homens d'espada, do que em prelados ou homens de lei, observa: «car enfin un homme de lettres, que peut-il faire de plus qu’un homme de guerre en cela, sinon de mieux faire une harangue en une assemblée? Cela sent mieux son prédicateur ou son pédant, que son ambassadeur d'un grand roy[2]»

Houve, pois, nos dous casos referidos acima, um como regresso á praxe de epochas passadas, e desconhecimento das condições e conveniencías da diplomacia hodierna, proveniente da falta de pratica ou de vocação; d'onde se conhece que o talento só de per si não basta para constituir um diplomata. Na tentativa, quiçá, de estabelecerem desde logo os seus creditos, e de grangear a benevolencia do publico, como se este devesse servir de medianeiro entre elles e o Governo do paiz, experimentaram aquelles personagens o desengano a que tão errado caminho havia de forçosamente conduzil-os.

Vem a ponto, talvez, lembrar a embaixada que de Castella veiu a Portugal em outubro de 1440, a qual, entre outras incumbencias, trazia a de obter para a rainha-viuva D. Leonor, a restituição do regimento, ou regencia, d'estes reinos, de que fôra privada em beneficio do infante D. Pedro; ou, aliás, que a deixassem passar para Castella. Os Embaixadores, com o fimm (já se vê, occulto) de abalarem o

animo do povo Portuguez com o receio da guerra, e desli-

  1. Sr. Mendes Leal, Quad. Elem. T. XIII p. 46 (sum. 81).
  2. Des Hommes, Part. 2 § 52 (Le grand Roy François).