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verdade, ao passo que a precipitação e a incerteza dão peso ao falso[1]. A fama encarrega-se do resto. Deu-se, ha poucos annos, um exemplo conspicuo d'esta verdade: um dos astros do firmamento diplomatico, cuja carreira no Oriente tivera um brilho que lhe parecia prometter duração, desappareceu de subito e completamente, como aquelle que se sumiu, ha tres seculos, da constellação Cassiopea.

A boa fé não exclue reserva. Quando não convem dizer o que sentimos, é lícito calar; mas não mentir[2].

Sir Francis Walsingham, eminente como diplomata e como homem de estado, dava de conselho: não digais nada do que não poderdes dar conta sem perigo, ou que não poderdes airosamente sustentar em caso de contestação. Tinha fama de veridico. A sua maxima era: video et taceo.

O illustre Cardeal d'Ossat, um dos negociadores mais bem succedidos do seculo XVI, cuja penetração e habilidade eram de primeira ordem, era homem da mais eminente boa fé e veracidade; e sobre isso modesto e desinteressado.

O Conde d’Avaux era tido por homem de tanta probidade, que nas Côrtes da Europa a sua palavra, como a do nosso D. João de Castro, não tinha menos valor do que uma firma, sendo ao mesmo tempo um dos mais celebrados negociadores do seculo XVII, summamente habil e prudente.

Dom Luiz da Cunha e João Gomes da Silva, Conde de Tarouca, diplomatas Portuguezes de maior nomeada do mesmo seculo XVII, e dos mais consummados do seu tempo, gosavam ambos do bom conceito e até da amizade dos principaes soberanos e homens de estado da Europa, pela

  1. «Veritas visu et mora, falsa festinatione et incertis valescuntn» Ann. L. II c. 39.
  2. «Dicere fortasse quæ sentias non licet; tacere plane licet.: Cicer. Ad Fam., L. 1V ep. 9.