Página:Ursula (1859).djvu/102

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e violento o afeto que nutro no peito. Menos puro fora ele, que, imenso como acabo de confessá-lo, saciá-lo-ia sem dificuldade. Meus escravos não estarão longe, muitos deles seguiram-me à caça: chamá-lo-ia, e vós seríeis conduzida em seus braços, apesar dos vossos gritos, e do vosso desespero, até minha casa, onde seríeis minha, sem terdes o nome de esposa.

Não é isto verdade?

Mas não. O amor que ora desenvolvestes em meu coração é tão ardente, quanto respeitoso. Nasceu agora, mas tanto já influiu sobre mim, que é humilhado que vos peço que o não desdenheis.

Se pudésseis sentir, compreender somente, o que ora se passa em mim... Mas sois inflexível! Úrsula, quando voltardes aos vossos lares, quando, descansada em vosso quarto, recordardes esta cena da mata, não zombeis do homem que vos fala; por que este amor, que me escalda o coração, há de durar enquanto eu existir.

Úrsula, tímida e angustiada, ouvira todo este discurso sem interrompê-lo; mas o coração lhe estava gelado de aflição.

— Senhor, – disse ela com voz trêmula e titubeante, – acabastes?

— Aguardo por uma palavra vossa – tornou o desconhecido, fitando nela um olhar inexprimível.

— Uma palavra?! Aguardais uma palavra minha? Pois bem! Abusastes por demais da minha fraqueza. Estou só, o lugar é ermo, tudo vos protege, e vos anima. Se fôsseis mais cavalheiro, seríeis comedido em expressões, que sempre foram tidas por ofensivas quando ditas