Que apoucado é meu prazer!

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Á mesma Quadra.
GLOZA. [1]
I.

Que apoucado é meu prazer!
Que penosa a minha lida!
Todos se pagão da vida ,
Só eu quizera morrer.
Tomára este nó romper
Desfechando o fatal córte;
Mas ai, só para que a Sorte
De meu mal mais faça alarde,
O meu fim para mais tarde
Escreveu a feia morte.


II.

Achou não ser mal bastante
Para o meu merecimento,
Vêr a luz do firmamento,
E morrer no mesmo instante.
Com enrugado semblante
Entregou-me á Lei dos fados;
E para que os meus cuidados
Sempre em seu horror cevasse,
M'impôz seu cunho na face
Com longos dedos mirrados.

III.

Entre desgosto e desgôsto
Caminho ao meu triste fim,
Como se já para mim
Da vida o Sol fôra posto;
As manchas, que tem meu rosto,
Da morte são já matizes,
Meu mal tem fundas raizes,
E quer a acerba desgraça
Que eu brilhante Epocha faça
No Livro dos infelizes.

IV.

Quem deste fatal volume
Quizer combinar os factos ,
Em mim os tem mais exactos,
Mais fieis do que presume;
A minha vida resume
Todo o rigor d’ímpios fados:
Em fim se fôrem lembrados
Nos tempos mais horrorosos
Se julgaráõ fabulosos
Os meus dias desgraçados.

Notas[editar]

  1. Transcrevo aqui algumas das Quadras, que nos meus Folhetos se acham impressas, por me parecer que nem todas são más. [N. de Januario Justinianno de Nobrega]