Quincas Borba/VII
Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu, levando-lhe água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo, após alguns minutos, respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer discursos, é o que era. E, afastando com o gesto a pessoa de Rubião, a fim de poder encará-la sem esforço, empreendeu uma brilhante descrição do mundo e suas excelências. Misturou idéias próprias e alheias, imagens de toda sorte, idílicas, épicas, a tal ponto que Rubião perguntava a si mesmo como é que um homem, que ia morrer dali a dias, podia tratar tão galantemente aqueles negócios.
— Ande repousar um pouco.
Quincas Borba refletiu.
— Não, vou dar um passeio.
— Agora não; você está muito cansado.
— Qual! Passou.
Ergueu-se e pôs paternalmente as mãos sobre os ombros de Rubião.
— Você é meu amigo?
— Que pergunta!
— Diga.
— Tanto ou mais do que este animal, respondeu Rubião, em um arroubo de ternura.
Quincas Borba apertou-lhe as mãos.
— Bem.