Refutação de todas as heresias/IV/XLIII

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Entre todos aqueles que passaram sobre a terra, tanto filósofos como teólogos, que conduziram investigações, prevaleceu diversidade de opiniões[1] em relação à Deidade, tanto em relação à sua essência ou natureza. Alguns afirmam que ela é fogo, outros espírito, outros água, e enquanto que outros dizem que ela é terra. E cada um dos elemento tem uma certa deficiência, e outros são prejudicados pelos outros. Aos sábios do mundo essas diferenças tem ocorrido já que obviamente varia de acordo com a inteligência da pessoa; (quero dizer) que, verificando os trabalhos estupendos sobre a criação, eles ficaram confusos à respeito da essência das coisas existentes, supondo que estas eram muito vastas para admitir que há geração de uma para outra, e ao mesmo tempo (asseverando) que o universo não é em si mesmo Deus. Até onde a teologia vai, eles declaram, entretanto, uma simples causa para tudo que se enquadra no conhecimento disponível, cada um postulando a causa que acha mais razoável; e assim, quando contemplando os objetos feitos por Deus, esses que são os mais insignificantes em comparação com Sua grandiosa majestada, não estando aptos a compreender a magnitude de Deus como Ele realmente é, eles divinizam esses (trabalhos do mundo exterior).

Mas os persas[2], supondo que eles tiveseem penetrado nos confins da verdade, ensinaram que a Deidade é luminosa, um luz contida no ar. Os babilônios, entretanto, afirmaram que a Deidade é escura, cujas opiniões aparecem em conseqüência uma da outra, assim como o dia segue a noite, e a noite segue o dia. Os egípcios, entretanto[3], que supõem serem mais antigos do que todos, também não falam do poder da Deidade? (Eles estimam esse poder ao) calcular esses intervalos das partes (do zodíaco; e, se) por meio de inspiração divina[4], eles afirmam que a Deidade é uma mônade indivisível, gerando a si mesma, e que tudo se formou a partir disso. Por isso, eles dizem[5] sendo não-gerado, produz os seguintes números; por exemplo, a mônade, adicionando a si mesma, gera a díade; e da mesma forma, quando adicionando, produz a tríade e a tétrade, até a década, que é o começo e fim dos números. Por isso é que a primeira e a décima mônade são geradas, de acordo a década equivalente, e sendo considerada por uma mônade, e (assim) esta é multiplicada dez vezes se torna uma centena, e de novo se torna uma mônade, e multiplicando a centena dez vezes se torna um milhar, e assim uma mônade. Desta forma, também multiplicada dez vezes faz a soma completa de uma miríade; da mesma forma será uma mônade. Mas por uma comparação das quantidades indivisíveis, os números familiares das mônades compreendem 3, 5, 7 e 9[6]

Há também, entretanto, uma relação mais natural de diferentes números com a mônade, de acordo com o arranjo da órbita de duração de seis dias[7], (isto é), da díade, de acordo com a posição e divisão dos números pares. Mas o número familiar é 4 e 8. Estes, entretanto, tomando da mônade dos números[8] uma idéia de virtude, progridem até os quatro elementos; (eu aludo), claramente, ao espírito[9], fogo, água e terra. E tendo feito o mundo destes, (Deus) construiu em hermafrodito, e colocou dois elementos no hemisfério superior, espírito e fogo; e assim este hemisfério da mônade, (um hemisfério) benévolo, ascendente e masculino. Assim, sendo composto de pequenas partículas, as mônades elevam-se até a mais rarefeita e pura parte da atmosfera; e os outros dois elementos, terra e água, sendo mais massivos, ele designou para díade; e foram designadas para o hemisfério descendente, feminino e prejudicial. E igualmete, de novo, os elementos superiores, quando comparados um a outro, incluem em um masculino e feminino para fertilidade e crescimento da criação. E novamente a água é masculina, e a terra é feminina. E assim o fogo inicial consorcia-se com o espírito, e a água com a terra. Assim o poder do espírito é o fogo, e o da terra é a água[10]... e os elementos em si mesmos, quando computados e resolvidos pela subtração das enéades, terminam propriamente, alguns em números masculinos, outros em femininos. E, de novo, a enéade é subtraida por esta causa, porque as três dezenas e sessenta partes do (círculo) inteiro consiste de enéades, e por isso as quatro regiões do mundo são circunscritas por noventa partes perfeitas. E a luz foi apropriada até a mônade, e trevas até a díade, e a vida para a luz, de acordo com a natureza, e a morte para a díade. E à vida (foi apropriada) a justiça; à morte, injustiça. Por isso tudo que for gerado por números masculinos é benéfico, enquanto que aqueles (produzidos) por femininos é prejudicial. Por exemplo, eles obtém seus cálcuos assim: a mônade - que podemos começar assim - se torna 361, cujos (números) terminam em uma mônade pela subtração de uma enéade. Da mesma forma, calculando assim: díada se torna 605; tome as enéades, que terminam em uma díade, e cada uma reverte em sua (função) peculiar.

Notas[editar]

  1. Ver Aristóteles, Metaphiysics, livro i.; Cícero, De Natura Deorum, livro i. (ambos traduzidos na Bohn's (classical Library); e Plutarco, De Placitis Philosophorum. lib. i.
  2. A menção aos persas, babilônios e egípcios mostra que o tema de livros perdidos sobre o sistema especulativos dessas nações.
  3. Essa versão segue o texto de Miller. Schneidewin acha que há um hiato aqui, que o abade Cruice preenche sem uma interrogação: "Os egípcios, que acham que são mais antigos do que todos, formaram suas idéias do poder da Deidade por cálculos e cômputos, etc."
  4. Ou "meditando na natureza divina", ou "refletindo como um deus".
  5. O manuscrito diz "ele diz".
  6. O abade Cruice sugere a eliminação do 9, por ser um número divisível.
  7. Miller considera que se refere aos seis dias da criação (Hexameron), de acordo com a palavra fusikwtera, isto é, mais natural. O abade Cruice considera que há uma alusão a um instrumento astronômico usa para exibir combinações harmônicas; ver Ptolomeu Harmon. i. 2. Bunsen leria tou ecakuklou ulikou.
  8. O texto está obviamente ilegível. Conforme traduzido por Schneidewin, ficaria assim: "Estes derivando da mônade um símbolo numérico, uma virtude, tendo progredido até os elementos." Ele traduz em latim. O abade Cruice sugeriria a introdução da palavra prosteqsan, de acordo com a afirmação já feita, que "a mônade, adicionando a si mesma, gera a díade."
  9. N.T.:Pode também ser lido como "ar".
  10. Há uma hiato aqui. Hipólito não fala nada sobre as enéades.