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Refutação de todas as heresias/V/IX

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Parece necessário citar um dos livros[1] reputados entre eles, na qual a seguinte passagem[2]:

"Eu sou a voz que se levanta do sono na era da noite. E então eu começo a despojar o poder que vem do caos. O poder que vem da parte mais baixa da lama, que levanta o limo da expansão incorruptível e úmida do espaço. E este é todo o poder da convulsão, que, mesmo em movimento, tendo a cor da água, gira aquilo que está parado, restringe as coisas trêmulas, liberta e ilumina[3] as coisas que habitam ali, remove as coisas ao aumentar, fiel guardião do traçado das brisas, aproveita as coisas expelidas pelos doze olhos da lei[4], manifestando um selo[5] ao poder que se distribui entre as águas invisíveis debaixo, e se chama Tálassa. Este poder ignorante foi acostumado a ser chamado de Cronos, guardado com correntes porque ele saltou com dificuldade o denso, nebuloso, obscuro e sombrio Tártaro. De acordo com essa imagem foram produzidos Cefeu, Prometeu e Japeto. Ao Poder que foi confiado Tálassa[6] é hermafrodita. E ao acelerar o som assoviado das doze boca em doze flautas, e espalhando por todos os lugares. O poder é súbito, e remove os controles, violentamente, movendo-se para cima (do mar), e selando os caminhos, até que (um poder opositor) possa guerrear ou introduzir alteração. A filha tempestuosa dele é fiel protetora de todas as águas, chamando-se Chorzar. É ignorantemente denominado de Netuno; de acordo com sua imagem, nasceram Glauco, Melicertes, Ino, Nebre[7]. Ele está circundado com a pirâmide de doze anjos[8] e cobre o porão da pirâmide com várias cores, e e completa a cor negra da Noite: essa a ignorância chamou de Cronos[9]. E seus ministros eram cinco - primeiro U, depois Aoai, Uo, Uoab e |[10]. Outros eram chefes confíaveis de suas províncias da noite e do dia, que repousam em seu próprio poder. A ignorância denominou-os de estrelas errantes, que dependem da geração corruptível. O chefe da ascensão da estrela[11] é Carfacasemeoqueir, (e) Ecabacara (também). A ignorância também denomina esses de Coribantes, chefes dos ventos; em terceiro está Ariel, sob cuja imagem nasceram Éolo e Bríares. E o chefe do (poder) noturno de doze horas é Soclan, ignorantemente chamado de Osíris; (e) sob ele nasceram Admeto, Medéia, Helena e Etusa. E o chefe do poder diurno de doze horas é Euno. O chefe da ascensão da estrela e das (regiões) etéreas é Protocamaro, mas a ignorância denominou de Ísis. Um sinal disso é a estrela Síro, sob sua imagem nasceram Ptolomeu, filho de Arsínoe, Dídima, Cleópatra e Olímpia. O braço-direito de Deus é o poder que ignorantemente foi chamada de Réia, sob sua imagem nasceram Átis, Migdon[12] (e) Enone. O braço-esquerdo tem senhorio sobre os alimentos, sendo chamada ignorantemente de Ceres, (enquanto que) seu nome pe Bena; sob sua imagem nasceram Celeu, Tripolemos, Mísia, Praxídica[13]. O braço-direito tem poder sobre os frutos, e a ignorância chamou de de Mena; sob sua imagem nasceram Bumegas[14], Ostanes, Hermes Trismegisto, Curites, Petosiris, Zodário, Berosus, Astrampsucos, (e) Zoroastro. O braço-esquerdo é (senhor) do fogo, (e) a ignorância chamou de Vulcano; sob ele nasceram Erictônio, Aquiles, Capaneu, Faetonte[15], Meleagro, Tideu, Enceladus, Rafael, Suriel, (e) Onfale. Há três poderes intermediários suspensos no ar, autores da criação. A ignorância chamou-os de Destinos; sua imagem gerou à família de Príamo, de Laio, Ino, Autónoe, Ágave, Atamante, Procne, Danao, e Pelias. Um poder hermafrodita, com infância perpétua, nunca envelhecendo, tendo beleza, maturidade, desejo e concunpisciência; e a ignorância chama de Eros; sua imagem gerou Páris, Narciso, Ganimedes, Endimion, Títono, Ícaro, Leda, Amimone, Tétis, Hespérides, Jasão, Leandro, (e) Hierão." Estes são os Proastioi do Éter, descrito no livro.

Notas

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  1. Hipólito, no fim do capítulo, menciona um de seus livros Οἱ προάστειοι ἕως αἰθέρος, Os suburbanos ascendentes". Bunsen sugere Περάται ἕως αἰθέρος, Os etéreos transcendentes.
  2. O abade Cruice acha que o sistema de cosmogonia seguinte é traduzido ao grego de algum trabalho originalmente em caldeu ou síriaco. Ele reconhece algum elemento judeu, citando o fato de que os judeus, durante o período do cativeiro na Babilônia, deixaram se influenciar pela filosofia oriental. Por isso, pode ter origem judaica.
  3. Schneidewin diz que o texto está ilegível.
  4. O abade Cruice observa que a referência aqui é para o segundo livro da Torá (Êxodo 15:27), onde são mencionadas as doze fontes de Elim. A palvra hebraica ןיע significa tanto "fontes" como "olhos". Daí o erro do tradutor grego.
  5. Isto é, uma expressão poética, como Cruice observa (ver Jó 9:7).
  6. Schneidewin refere-se a uma passagem de Berosus, que afirma que essa pessoa foi chamada de Talata pelos gregos, Thalath pelos caldeus, enquanto que outros chamam de Omorca, Omoroca, ou Marcaia. O abade Cruice, entretanto, dá pouco valor a esses nomes, seguindo a avaliação de Scaliger, considerando espúrio. É desnecessário lembrar que a autenticidade de Berosus ruiu sob os ataques da crítica moderna.
  7. Miller sugere Νεφέλη, Cruice Nebo.
  8. Cruice acha que essa pode ser ua figura do ano e de seus doze meses.
  9. Miller lê como Κόρην.
  10. N.T.: Não há nada escrito sobre o quinto.
  11. Ou "ar".
  12. Millier lê como Μυγδώνη, outros Μυγδόνη.
  13. Miller lê como ᾽Απραξία.
  14. Miller sugere Βουζύγης.
  15. Miller lê como Φλέγων.